05/01/2009

Segredos do Tarô


O som do violino corta a noite. Ele acorda os espíritos ciganos que vêm da Rússia, onde moram em castelos de pedra, ou da Espanha, onde dormem nas praças de touros. Pandeiros, palmas, cânticos de ciúme e amor deste anoitecer no acampamento, algo de sonho e de mágico. Saias vermelhas, chales negros, pulseiras douradas nas mulheres, brilham mais que a Lua, a deusa de todos os ciganos. E, enquanto aumentam os cantos e os feiticeiros se esquentam junto da grande fogueira, vamos nos, mais uma vez, tocar na poderosa e tema magia das tribos, para aprender, pela voz da mãe-dos-feitiços, segredos jamais revelados. Canta violino, bate com o pé descalço no chão, povo cigano, que e sua a noite, e suas são todas as estradas. E, entre moedas de ouro e talismãs de prata, ao cair das Cartas do Tarô, ao tilintar dos pêndulos, mostremos a sua força.


Os donos da Magia Vermelha sempre foram aos ciganos; segundo as lendas, este povo nasceu na índia. Foi no começo do mundo. Eles trabalhavam com o ouro, o bronze, a prata e adoravam a deusa do fogo, protetora de todos os que moldam o metal. Mas, num dia de revolta popular, eles foram expulsos de suas terras. E então, aos pés da divina mãe-da-tribo fizeram o juramento de andar por todos os lugares, sem pátria, já que deixaram a sua, como malditos.Contam as cantigas ciganas que a tribo andou por todo o Oriente, colheu lótus na China, tocou nos papiros do Egito, deixou-se envolver pela atração da Esfinge de Gisé, dançou nos castelos de Espanha, nas feiras portuguesas, bebeu o vinho bom da liberdade por todo o canto.

Hoje estão aqui, nas terras verde-amarelas, e andam pelas estradas de casas de sapé, ouvem rezas de lavadeiras, espiam nossa vida cabocla, lêem nossa mão. São eles os ciganos da Tribo Lua Nova, uma das mais antigas, uma das mais quentes de amor. A sorte por meio de cartas!
  • Texto de Maria Helena Farelli
  • Tela de Maria do Carmo da Hora