Eu sou
a Dança
Meu nome é Dança, me chamam do
mesmo modo de bailado, coreografia, balé, balanço, salto, pulo, série ritmada
ou passo cadenciado. Jamais serei uma, sou múltipla, fluída, diversificada. Habito
em todas as almas, mas não são todas que me reconhecem, embora não me prenda a
nenhuma, estou nelas feito tatuagem escondida por baixo da roupa apta a me
apresentar na ocasião desejada.
Os ciganos dos Céus e da Terra
ganharam meu coração quando entenderam que não existo completa para o mundo sem
a cor, o brilho, a alegria e a liberdade; perceberam o meu clamor por expressão
e sentimento, por diversão e cerimônia.
Quando o Povo das Estrelas se reúne,
dia de ou de noite, com sol ou com chuva eu vivo em minha plenitude. Sou
chamada pelas palmas, pelas batidas de seus pés, pelos os estalos de dedos; no
agitar dos pandeiros, na pulsação das castanholas e, a cada toque de viola,
violino, bandolim e acordeom, eu ressurjo. Chego ávida de energia ao vislumbrar o fluxo
natural dos lenços esvoaçantes, o movimento infinito das fitas coloridas e o
rodopio das saias que mais parecem flamular em honrarias a mim.
Quando me junto ao povo cigano
feito andarilha não sou mais uma dinâmica de compasso, sou parte da alma deles
que ultrapassa fronteiras e tem o horizonte como limite. Sim, eu sou a Dança.
Valéria Fernandes
Pintura de José Espinoza Moraila