Vida Cigana
Já faz algum tempo que tenho
em mente expor aqui no Vida Cigana algumas obras do artista plástico Mahmoud
Feteih. Ele é egípcio e retrata, entre outras figuras, belas ciganas em
momentos singulares.
Dança
da Bengala: em princípio era usada para satirizar os
homens que dançavam com o mesmo instrumento de forma grotesca, lembrando uma
luta. Com o tempo as mulheres colocaram na Dança da Bengala charme, harmonia e
muita destreza, tornando-se uma dança catalogada.
Cuidados
e Adornos: esta pintura mostra uma cigana olhando-se ao espelho, evidenciando
o cuidado com a aparência e com a sua vaidade. Os adornos dourados emitem
sinais de que ela gosta de chamar atenção para si.
Sedução: mão
na cintura, olhar malicioso e sensual dão o tom de sedução que esta cigana
pratica. Ela está bem vestida, adornada de ouro e com rico lenço nos cabelos. A
cigana joga com seu charme e com seus encantos.
Cartomancia: vê-se
com clareza que a cigana é cartomante, não só pelo uso das cartas, mas por usar
um baralho comum. A meu ver, o fato mais relevante desta pintura é que a cigana
está sentada bem à vontade, sem traje especial e tem um Ás de Copas nas mãos. Todos
estes sinais apontam para que ela esteja jogando cartas para si, desejando saber sobre
sua vida amorosa.
Natureza:
com traje simplório esta cigana é mostrada pelo artista como aquela que comunga
com a natureza. Ela tem em mão a comida para alimentar o pássaro que parece ter
familiaridade com ela pelo pouso em seus dedos. Trata-se de uma cigana em seu
habitat natural, os campos.
Dança
com Snujs: a dança
com este instrumento de percussão requer
habilidade e ritmo para que o som aponte a cadência da dança. No caso, a cigana
parece dar literalmente um baile, mostra-se entregue, feliz, sensual, rigorosamente adornada e com um traje branco para dar ainda mais leveza a imagem.
Cafeomancia:
são
raras as pinturas em que as ciganas são retratadas lendo a Borra de Café. Apesar de não vermos um consulente, a
vestimenta vermelha completa (com lenço, rosa nos cabelos e xale) e a postura da
jovem, faz saber que a sorte que ela lê não é a dela pelo conjunto de formalidades, apesar
disso, a cigana exerce seu talento com concentração.
Descontração:
nesta imagem não há indícios do que esteja acontecendo ao redor da cigana, o
artista evidenciou com maestria um instante de alegria e descontração. Parece
um momento registrado por uma máquina fotográfica que a pessoa fotografada não
sabe que está sendo clicada.
O
olhar: o foco desta cigana pode parecer de imediato a sedução,
entretanto, seu olhar revela uma outra maneira de ler a sorte de outrem: aquela
em que vê a alma do consulente somente com o olhar aguçado e intuitivo, sem a
necessidade de oráculos para auxiliá-la.
Na
varanda: a cigana olhando a vida através da varanda é uma imagem
intrigante, mostra que ela não é andarilha, não mora em tenda, e sim que é uma
cigana que tem residência fixa, e pelo ouro que ostenta, pode, sem problemas, “ver a vida
passar”.
Valéria Fernandes