Aproveitando a parada da caravana, o jovem cigano desce de sua carroça, pega seu cantil quase vazio e, após sorver longo e último gole de água, dirige-se a uma bica próxima para enchê-lo novamente. A caravana havia parado como de costume, para descanso e água para os animais e também para que os cantis fossem cheios. O vento da tarde anunciava que o frio relento da noite viria em breve e réstias de um sol dourado emprestavam ao lugar uma aparência de nobreza. Causava-lhe alegria observar o movimento das folhas das tamareiras e sempre que podia, parava para admirá-las. Igor, brincando e tamborilando com o cantil, dirige-se ao Sábio ancião do pequeno e pobre lugarejo de não mais que duas dúzias de casebres e como de costume cumprimenta-o aproveitando para pedir-lhe um conselho:
- Diga-me senhor, o que Deus nos faz quando não seguimos um conselho?
Levantando a cabeça e parecendo sorrir com os olhos, o Sábio responde ao cumprimento do jovem e diz amorosamente:
- Quando convivemos com alguém que tem mais clareza de espírito e não enxergamos, paciência. Somos ainda cegos e nada nos é cobrado. Afinal, não podemos enxergar o que não vemos. Porém, quando reconhecemos a sabedoria de alguém, e mesmo assim, fechamos os ouvidos diante de um sábio conselho, seremos cobrados pelo Universo. O Universo, lembre-se, sempre pede contas pelo que nos é dado. Sempre.
Extraído do livro Toques de Sabedoria - Devany A. Silva
- Tela de Maria do Carmo